sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Fender brasileira: o fim da parceria com a Giannini


Carlos Assale que me desculpe, mas trago dois exemplos da falta de padrões nas Southern Cross, que retratam bem aqueles últimos meses de trabalho da  parceria Fender/Giannini em meados de 1995. Muitos falam da falta de comprometimento com os padrões americanos, outros afirmam que os royalties cobrados impossibilitaram dar continuidade ao sonho brasileiro. Verdade seja dita: já tive três exemplares do modelo.. ambos diferentes. O primeiro exemplar de 1992/1993 e o segundo exemplar do último lote de 1995. É possível identificar duas diferenças no braço: primeiramente, a diferença no recorte do headstock (Shape) e segundo, o filete que cobre o tensor na parte de trás, sendo que no exemplar de 1992/1993 era de madeira clara e na de 1995 parece ser de madeira mais escura, talvez Jacarandá.


Na imagem acima, percebe-se a diferença entre os headstocks, o da esquerda pertence ao último lote (1995) e é visivelmente menor do que o modelo ao lado, a direita um exemplar dos lotes produzidos em 1993/1994. Não deve-se levar em conta a diferença dos rebaixadores de cordas, pois customizei na época o braço da direita com os rebaixadores da Fender, também coloquei tarrachas do tipo Kluson para dar o ar vintage.Os rebaixadores originais são em forma de "bastão", como se pode ver no modelo a esquerda. 


                                                  Exemplar do último lote (1995)

O filete de madeira que cobre o tensor do braço ganha um destaque pela madeira escura, não tenho certeza de que madeira é, lembra bastante o ébano, mas não posso afirmar com certeza e exatidão o tipo certo que usaram nesse modelo.


                                 Exemplar pertencente aos primeiros lotes (1992/1993)

O filete de madeira que cobre o tensor no modelo acima ganha um destaque pela madeira mais clara que a anterior, também não posso afirmar com certeza e exatidão o tipo certo que usaram nesse modelo. Já tive também um braço de Southern Cross do último lote de 1995 que a escala era colada, ou seja, nada de uma única peça como eram as primeiras. 

Uma pena que em meados de 1995 a coisa morreu. Quem não gostaria de ter uma Fender brasileira de baixo custo e boa qualidade (a preço acessível) como é no México? Pena que muitos outros fatores resultaram no declínio das SC, escrevendo esse post... penso se tivesse sido diferente.. será que hoje teríamos bons instrumentos construídos aqui? Tudo me faz pensar que não! Mais cedo ou mais tarde a coisa iria desandar..  

As guitarras originais saíram de fábrica nas opções preta, vermelha metálica (Cherry) que constantemente costuma ser confundido nesse modelo por CAR (Candy Aple red) e Sunburst azul com preto (Moonburst). Eu afirmo categoricamente que não é Candy Aple Red porque a Fender costuma usar como padrão no processo de fabricação das CAR a aplicação de uma base metálica gold, como um dourado metalizado ouro e então aplica-se o verniz tingido de vermelho para dar o efeito magnífico da chamada "maçã do amor". Nas minhas Fenders americana e japonesa, ao desmontar o escudo e olhar com cuidado a parte interna da cavidade dos captadores, se percebe pontos onde o verniz tingido na coloração vermelha não pegou e é possível ver o dourado bem amarelado. Nas Cherry o processo é diferente, aplica-se diretamente a tinta sem nenhum mistério. Atualmente a vermelha (Cherry) e a preta são as mais comuns em se encontrar a venda no mercado, a Moonburst sumiu um pouco e quando aparece geralmente é mais cara que as outras, razão de grande procura entre os colecionadores.

Inicialmente a ideia era inovadora em nosso país, a parceria tinha grande projeção e o sonho de se construir um instrumento com a qualidade da Fender animava os brasileiros. A produção começou muito bem em 1992 já que o projeto foi desenvolvido em 1990/1991, mas claramente a coisa desandou no último lote de 1995, parece que as guitarras foram construídas de qualquer jeito, sem padrões. Não culpo exatamente isso pelo fim da parceria, entendo que o chamado "custo Brasil" de fato, motivou a decisão. Quer comprar uma Southern Cross? Uma dica: compre das primeiras!


Linha do tempo:

1989: Último ano de Carlos Assale no comando da Dolphin;
1990: Carlos Assale assume o comando da Giannini;
1991: (Janeiro/Junho) Viagem para os USA, apresentações em Corona e contrato com a Fender;
1991: (Julho/Dezembro) Primeiras amostras e tentativas de reprodução do shape Fender;
1992: (Janeiro/Junho) Ajustes finais e organização da estrutura na fábrica para início da produção;
1992: (Julho/Dezembro) Início da produção 1º lote (sem vendas)
1993: (Janeiro/Junho) Início das vendas com selo "Squier Series" (1º lote);
1993: (Julho/Dezembro) Vendas do 2° lote (ainda com o selo "Squier Series);
1994: (Janeiro/Junho) Substituição do selo "Squier Series" pelo selo "Southern Cross" (1º lote);
1994: (Julho/Dezembro) 2° lote de vendas da Southern Cross.
1995: (Janeiro/Junho) Perda significativa na qualidade de construção + falta de padrões + altos encargos + royalties + funcionários insatisfeitos.. etc..
1995: (Julho/Dezembro) Fim da parceria;



William de Oliveira

11 comentários:

  1. Gostei da aula! Parabéns! Possuo um baixo dessa linha e o preservo com muto carinho. Abç

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    1. Legal Carlos, ainda não postei nada sobre os baixos da linha Southern Cross, por gentileza me envie as fotos para o meu email para poder publicar aqui, meu email é lwnk@bol.com.br

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  2. Obrigado pelas informações! Eu tenho uma mooborst. Sou aficcionado pela história das Sourthen Cross e lamento muito não ter comprado uma quando lançaram. Recentemente surgiu uma outra, desta feita preta, e estou interessado em comprar. Tem alguma dica para eu não comprar gato por lebre?

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    1. Sim fabrício, veja bem se é realmente uma SC. Recentemente anda uma "febre" por aí, vejo pessoas transformando Stratossonics em Southern Cross pra lucrar um pouco mais, substituindo o logo por esses de waterslide vendidos no Mercado Livre, por isso, veja bem a coloração do logo.. original tem que ser metalizado, nas falsificações a coloração é diferente, até as dimensões do logo Fender não são exatas. É isso, abraços!

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  3. Olá, gostei do posto, tenho uma fender southern do primeiro lote, tenho desde 1996. Procuro comprador, está toda original!

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    1. Legal, a sua deve ser uma Fender com o logo Squier Series, interessante. Abraços!

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    1. Infelizmente não sei avaliar amigo, pois nunca tive o instrumento. Já tive várias opiniões positivas em relação ao baixo, mas cada pessoa tem a sua opinião.. é muito subjetivo.. abração!

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  5. Tenho uma que acredito ser de 1994. Acabei trocando os captadores e toda a elétrica por um kit EMG DG-20. Agora pretendo trocar trastes, tarracha e ponte. Sei que muita gente pode achar que não vale a pena, mas tenho um apego emocional, então pra manter ela tocável, acho que vale a pena investir. Alguma sugestão para essas trocas? Tipo, qual ponte, tarrachas, trastes...

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  6. Muito bom o blog e as informações deste post.

    Somente um comentário. Realmente em 1995 existiam diversos problemas na relação Gianinni e Fender, porém há ótimas guitarras de 1995. Já toquei em algumas do primeiro lote e do último lote. Garanto que há excelentes guitarras do último lote. Talvez haja alguma que não esteja 100% no padrão, mas a maioria absoluta está 100% sim, inclusive elas são melhores que as guitarras dos primeiros lotes. Em 1995, os técnicos já dominavam o padrão Fender, sendo bem poucas guitarras inutilizadas. No começo a quantidade de guitarras inutilizadas eram muito maior.

    A Fender exige que 100% das guitarras estejam 100%. SE 1 guitarra não está 100% no padrão, há um grande problema para a Fender.

    Não querendo contrariar o tópico, mas eu prefiro as guitarras de 1995. A Fender não permite guitarras fora do padrão.

    Obs: concordo que atualmente há muitos franksteins de Southern Cross. Muitas falsificações grosseiras para tentar vender no Mercado Livre. Para quem interesse em comprar uma, o ideal é pesquisar bastante, e, se for o caso, pedir consulta a quem possui/conhece essa guitarra há mais tempo.

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  7. Olá!!
    Tenho uma Fender Strato que tinha (alguém raspou sem minha autorização) a inscrição Squier Séries e o Made In Brazil. Comprei 0km em agosto de 1994.
    O que tenho a dizer é que, depois dos upgrades, tornou-se um excelente instrumento. Hoje só braço e corpo são originais. Como sou profissional e tenho compromisso com minha música e não com visual, instalei tarraxas e ponte Gotoh mas não mantive a originalidade na configuração dos captadores (na ponte tenho um SM3, no meio um SD P90 e no braço um Fender Texas Special). 90% do que gravei foi com ela, acho que não deve pra nenhuma Fender americana, principalmente porque gosto de trastes jumbo de inox e cordas .012, portanto, mesmo em uma americana eu precisaria mexer. Instrumento precisa ser confortável e propiciar que você alcance o som que está na nossa cabeça, o resto é secundário. Tive a sorte/oportunidade/prazer de gravar e tocar fora (EUA e UK) com minha banda, Splippleman, e guitarristas ficaram curiosos sobre a guitarra. Comparei-a em lojas com instrumentos vintage e custom shop e não a trocaria por nenhuma, levando em consideração apenas som e conforto.
    Ótimo blog!!

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