Olá amigos, venho trazer nesse post dedicado à raridade do Mês de Setembro, uma edição produzida recentemente pelo meu grande amigo e renomado conhecedor das Stratocasters Moisés Figueiredo, responsável direto pelo meu interesse nas stratos e por fazer com que eu quisesse aprender mais sobre elas. Apresento para vocês um pouco dessa narrativa, feita pelo próprio Moisés, do protótipo do que chamaremos pelo nome Zeis Stratocaster.
Bem, hoje vou contar um pouco da
história e do processo de refinish e montagem de uma strato relic. Desde o ano
de 2004, quando ganhei minha primeira guitarra, uma Vantage com Floyd Rose, comecei
a me interessar em modificar os instrumentos, a ler sobre circuitos
eletrônicos, pedais, amplificadores e etc... Comecei construindo meus próprios
pedais, depois meu amplificador valvulado (Bassman), a customizar minhas
guitarras e a de meus amigos. Sempre de forma amadora, como hobbie. Com o
passar dos anos, depois de poder comprar, vender e trocar várias Fenders, tive
a oportunidade de conhecer um pouco sobre o assunto. Por mais que a gente lê,
pesquise, sempre se descobre algo novo. E o que mais me fascina neste mundo Strateiro
são as guitarras PRÉ-CBS, pelo seu shape, o acabamento em nitro craquelando,
captadores em carretel de fibra, fios FORMVAR, escudos amarelados e as
ferragens oxidadas pelo tempo. Devido à impossibilidade financeira de adquirir
uma legítima Pre-CBS 62/63 e pela facilidade no mundo handmade, resolvi montar
minha própria pré-cbs rsrsrs.
Seria muita pretensão de minha parte? Seria... mas resolvi ocupar meu tempo nas
férias, feriados e ainda achei o louco do William Martins pra me acompanhar
neste projeto. Comecei a garimpar corpos de Strato na internet. O primeiro critério era ser de
uma Fender em Alder, mas os preços abusivos me levaram a escolher o corpo de
uma Fender Southern Cross em cedro. Discussões a parte se a SC é uma Fender ou
não, está neste post, que o William já discutiu.
Apesar da resistência em deixar a ideia original, por ter um shape um pouco diferente
e ser em cedro, eu o escolhi pela a qualidade da madeira. Era um corpo com 20
anos de estrada, a madeira já estava mais que estabilizada.
Após isso iniciei uma nova busca,
agora pelo braço. Como a referência era uma Stratocaster 62 tinha que ser um
braço em maple com escala em rosewood, ajuste do tensor pelo tróculo e escala com
raio 7,25’’. Pesquisei no ML e Ebay, e o alto preço dos braços Fender com essas
características me fez mudar de plano novamente e pegar um braço que não era
legítimo Fender. Achei no Ebay um braço canadense já usado, por um preço mais
aceitável, mesmo assim teve um custo elevado. Nessa altura do campeonato já
havia mudado a idéia inicial em dois itens, então tentei caprichar na ponte e
tarrachas vintage. Comprei uma ponte Gotoh vintage e uma tarracha Wilkinson,
das antigas, exatamente idênticas às Kluson. Muitas Wilkinson’s de hoje são
diferentes neste detalhe:
Já pra parte elétrica escolhi potenciômetros ALPHA, captadores em Alnico 5, fios de tecido, escudo Fender Standard, chave seletora Fender. Obs: Nesta foto ainda estava sem a chave seletora Fender adquirida posteriormente.
Agora hora de colocar a mão na
massa. Como tinha que ser um projeto totalmente feito por mim, iria arriscar a pintura.
Não tenho pretensões de me tornar um luthier, mas sim um autodidata pra fuçar
meus instrumentos. Tenho meus projetos profissionais na área da saúde que
passam longe disso, então essas experiências são como hobbie. Assim, todas as experiências
citadas a seguir são minhas, não tem obrigação nem intenção de serem corretas
no julgamento profissional dos amigos luthiers. Por ser experimental, era uma oportunidade de
eu aprender as técnicas de pintura, não tinha a pressão em acertar de primeira
vez. Pra isso decidi comprar uma pistola de pintura para aprender, treinar e
depois pintar a guitarra. Não queria, nem tinha grana para investir muito
nisso, então resolvi comprar um equipamento amador e barato. Vi uns vídeos no
youtube e achei que seria possível uma boa pintura usando uma pistola
pulverizadora, já que a mesma consegue pressão suficiente para formar a névoa
de tinta, que permitiria uma aplicação de tinta sem escorrer sobre o corpo. Só
aprender a regular o bico e pronto!!! Ela é barata, funcional e de simples uso
para pequenos projetos. Não me arrependo, ainda está em pleno uso quando
preciso dar acabamentos nos meus pedais handmades. Único ponto negativo é ser
de plástico, assim, os solventes de pintura em contato prolongado acaba
deteriorando o material plástico do bico. Se fosse metálica seria perfeita pra
trabalhos pequenos como este. Então uma dica é colocar os produtos (seladora,
tinta e verniz) só no momento em que for usar e logo depois já limpar a pistola.
FOTO PISTOLA.
Mãos à obra:
Materiais:
- 3 lixas 120
- 3 lixas 220
- 3 lixas 320
-3 lixas 400
- 6 lixas 600
- 2 lixas 1200
- 2 lixas 2000
- Taco para lixar (pode ser feito com pedaço de madeira com borracha na base, 7cmx13cm)
- Pistola Pulverizadora
- Flanelas limpas para limpar os materiais antes de aplicar a seladora, tinta e verniz)
- 300 ml de seladora nitrocelulose Sayerlack (irá diluir, então o volume final será por volta de 500ml)
- 400ml de tinta DUCO branca
- 400ml de tinta DUCO Sonic blue
- 400ml de Verniz Laca nitrocelulose
- 1 rolo de fita crepe para proteger escala do braço e cavidades do corpo.
- Massa numero 2 para polir
- Cera automotiva para polir
- 2 litros de diluente Sayerlack/Thinner (para diluir e lavar a pistola)
Pessoal, o volume de seladora, tinta e verniz é o suficiente pra fazer todo processo e ainda sobrar. Coloquei um volume maior já que se tratava de um teste, então a probabilidade de erros era grande. Esperei chegar as minhas férias pra ir pra casa dos meus pais no interior, pra fazer tudo no quintal mesmo. Como moro em outra cidade e em apartamento isso não seria possível. Assim, a primeira parte foi retirar a tinta original do corpo SC preto. Usei lixa numero 100 até retirar todo o verniz e uma boa parte da tinta. Depois fui pra lixa 220 pra não arranhar a madeira com um grão de lixa grosso, depois lixa 320, 400 e 600 (essa ultima etapa com lixa fina faz com que necessite de menor quantidade de seladora pra tapar os poros da madeira). Não recomendo utilizar removedor de tinta, apesar de ser mais prático e não desnivelar a superfície do corpo, pois restos do produto podem penetrar nas fibras da madeira e atrapalhar o resultado final. Para evitar ondulações na superfície ao lixar, usem sempre um taco de lixar, assim a superfície permanece plana.
Após lixado e limpo, o corpo vai p/ aplicação da seladora. Usei a seladora com
base nitrocelulose da Sayerlack, segui as recomendações do fabricante nas
porções de diluição. Foram 3 ademãos bem finas até cobrir todos os poros do
corpo e 24 horas de secagem completa. Depois usei lixa dágua 600, limpei e
parti para o terceiro passo... hora de preparar o fundo branco e a tinta DUCO
Sonic Blue. Relic com ar de naturalidade tem que ser feito usando selador,
tinta e verniz em nitrocelulose. Assim, fica o mais próximo de uma Fender
pré-cbs que eram pintadas com estes produtos. Escolhi no catálogo uma tinta DUCO
na cor branca, que não lembro o nome específico, e um azul que achei parecido.
Comprei em loja de tinta automotiva, o cara preparou na hora. Comprei 400ml de
cada e foi o suficiente, até sobrou. A tinta ficou um pouco forte, então misturei um
pouco da tinta branca para clarear e cheguei à perfeição, na minha opinião.
Materiais:
- 3 lixas 120
- 3 lixas 220
- 3 lixas 320
-3 lixas 400
- 6 lixas 600
- 2 lixas 1200
- 2 lixas 2000
- Taco para lixar (pode ser feito com pedaço de madeira com borracha na base, 7cmx13cm)
- Pistola Pulverizadora
- Flanelas limpas para limpar os materiais antes de aplicar a seladora, tinta e verniz)
- 300 ml de seladora nitrocelulose Sayerlack (irá diluir, então o volume final será por volta de 500ml)
- 400ml de tinta DUCO branca
- 400ml de tinta DUCO Sonic blue
- 400ml de Verniz Laca nitrocelulose
- 1 rolo de fita crepe para proteger escala do braço e cavidades do corpo.
- Massa numero 2 para polir
- Cera automotiva para polir
- 2 litros de diluente Sayerlack/Thinner (para diluir e lavar a pistola)
Pessoal, o volume de seladora, tinta e verniz é o suficiente pra fazer todo processo e ainda sobrar. Coloquei um volume maior já que se tratava de um teste, então a probabilidade de erros era grande. Esperei chegar as minhas férias pra ir pra casa dos meus pais no interior, pra fazer tudo no quintal mesmo. Como moro em outra cidade e em apartamento isso não seria possível. Assim, a primeira parte foi retirar a tinta original do corpo SC preto. Usei lixa numero 100 até retirar todo o verniz e uma boa parte da tinta. Depois fui pra lixa 220 pra não arranhar a madeira com um grão de lixa grosso, depois lixa 320, 400 e 600 (essa ultima etapa com lixa fina faz com que necessite de menor quantidade de seladora pra tapar os poros da madeira). Não recomendo utilizar removedor de tinta, apesar de ser mais prático e não desnivelar a superfície do corpo, pois restos do produto podem penetrar nas fibras da madeira e atrapalhar o resultado final. Para evitar ondulações na superfície ao lixar, usem sempre um taco de lixar, assim a superfície permanece plana.
Dando sequência, apliquei 3
ademãos bem finas do fundo branco e esperei 24 horas de secagem. Depois uma
lixa dágua bem leve, numero 600 só pra retirar possíveis defeitos na aplicação do
fundo e criar atrito p/ aumentar a fixação com a tinta Sonic Blue, que virá por
cima. Esse tipo de coisa não li nem aprendi com ninguém, veio de suposições
próprias, então pode não ser o usado pelos profissionais.
Apliquei essa tinta DUCO branca
como fundo pra ficar com o mesmo visual das pré-CBS, quando iniciar o relic ele
aparecerá. Dá esse aspecto de degradê,
com o amarelado do verniz, Sonic Blue, fundo branco e madeira.
Continuando apliquei 3 ademãos de
Duco Sonic Blue, 24 horas de secagem e lixa d’água 600 pra uniformizar a
superfície e diminuir a “casca de laranja”. Depois, uma ultima ademão fininha
de Sonic blue, 24 horas de secagem, lixa d’água 600 e limpeza.
Partindo para última etapa, aplicação do verniz nitro. Utilizei o verniz Laca
Nitro da Sayerlack e segui rigorosamente as instruções do fabricante. Apliquei
3 ademãos de verniz e esperei 24 horas de secagem. Depois iniciei o processo uniformização
da superfície, usei lixas dágua 600, 1200 e 2000. Lembrando que nessa etapa, este
processo de lixamento é feito utilizando um taco de lixar e lixas molhadas em
sabão com detergente. Após isso, inicia-se o polimento com massa de polir
numero 2. Haja força nos braços para o polimento...isso cansa muito. Uma
politriz elétrica pode te ajudar muito nesta etapa. Depois de polida com a
massa numero 2 aplico a cera de polir automotiva. O resultado foi magnífico pra
um trabalho amador e utilizando apenas ferramentas simples.
Para o braço apliquei o verniz
pigmentado, pois o mesmo já vinha com o logotipo Fender e não queria perdê-lo.
Como o acabamento era de nitro, só dei uma lixada com grão 600-1200 para
retirar pequenos defeitos e apliquei o novo verniz por cima. Fiz uma camada bem
fina pra não ficar com acabamento muito grosso. Depois de seco foi lixado
novamente e polido.
Desde o início do processo de
pintura o William Oliveira se empolgou, e me ajudou com tons e códigos de
tintas usadas pela Fender. Como ele foi acompanhando todo o processo, ele se
apaixonou pelo projeto, até mais do que eu, que estava executando. Então ele
começou a me importunar querendo comprar a guitarra quando pronta. Neguei todas
as propostas, pois era um projeto pessoal e não profissional. Já tínhamos
feitos outros negócios no passado, inclusive tinha vendido uma Fender Standard
MIM pra ele em 2012. Mas, sabe aquele cara chato que todos os dias fica te enchendo
o saco querendo fazer negócio? Pois bem, ele é assim rsrsr. Acabei desistindo e
fiz o compromisso de passá-la depois que termina-la e ficar um tempo com a
guitarra pra curtir um pouco. A essa altura do campeonato ela já estava quase
pronta, faltavam detalhes, faltava o relic da pintura e do hardware.
Mandei fazer um carimbo com a data em que terminei a pintura e assinei meu nome em todas as partes da guitarra (corpo, escudo e braço), pra evitar que seja vendida um dia como reissue para algum desavisado. Está longe de ter ficado perfeita, mas muita gente não sabe diferenciar nem uma standard falsa, quanto mais uma reissue. Então tentei deixar essas marcas pra não ser vendida como original.
Mandei fazer um carimbo com a data em que terminei a pintura e assinei meu nome em todas as partes da guitarra (corpo, escudo e braço), pra evitar que seja vendida um dia como reissue para algum desavisado. Está longe de ter ficado perfeita, mas muita gente não sabe diferenciar nem uma standard falsa, quanto mais uma reissue. Então tentei deixar essas marcas pra não ser vendida como original.
Combinei com o William que ele
nunca desfaça dessa guitarra, mas se algum dia tiver que vendê-la, por motivos
de forças maiores, terá que me avisar, pois terei o direito de compra pelo
mesmo preço que vendi. Somos de um tempo em que a palavra ainda tem valor, e
espero compromisso por parte dele. Amizade tem dessas coisas rsrs. Essa
guitarra pode ser identificada como réplica facilmente, só desmontá-la e ver
minhas assinaturas, datas, madeira do corpo pelo encaixe do braço e etc. Sem
desmontá-la existem pouquíssimos detalhes aparentes que entregam ser uma
réplica. E aí, você consegue identificá-los? Comente no espaço de comentários
suas impressões. O processo de Relic do hardware, pintura e plastico será
descrito em outra oportunidade, já que o texto ficou muito extenso.
Finalizando, fiquei cerca de 2 meses com a guitarra e enviei ao amigo por preço de custo. Hoje o William Oliveira diz ser uma das guitarras preferidas de sua coleção, tanto por beleza, como por tocabilidade e timbre.
Grande abraço a todos amigos do Blog.
Finalizando, fiquei cerca de 2 meses com a guitarra e enviei ao amigo por preço de custo. Hoje o William Oliveira diz ser uma das guitarras preferidas de sua coleção, tanto por beleza, como por tocabilidade e timbre.
Grande abraço a todos amigos do Blog.
Moisés Figueiredo
Muito audacioso o projeto, gostei bastante! Um detalhe que eu perceberia que ela é réplica seria as bolinhas da marcação da escala na 12ª casa, as Fender's originais (tanto reissue quanto standart) têm essas bolinhas mais aproximadas entre si. Mas mesmo assim, tá muito bem feito, é uma réplica digna, decente!
ResponderExcluirObrigado por entrar em contato amigo, pois é.. ela tem esse e vários outros detalhes que a diferenciam de uma Fender, pois ela não é legítima reissue 62,apenas uma réplica. Ainda estou tentando convencer o Moisés de tirar o logo da Fender e colocar um logo personalizado mas tá difícil hehe... Abraços
ExcluirSensacional a guitarra e o blog, parabéns! Um dia pretendo fazer um projeto nesse sentido. Espero poder contar com a ajuda dos mestres, parabéns!
ResponderExcluirObrigado amigo, assim que fizer compartilhe com a gente. Abraços!
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