Sabem o guerreiro quando se cansa da guerra e decide guardar sua espada? Assim fiz. Mas naquele período negro de minha vida, não era uma espada, mas sim minha guitarra. Eu tinha uma banda. Na banda estavam reunidos alguns de meus melhores amigos, no vocal e guitarra base tínhamos o Junior, no baixo o Elton e na bateria o Juliano, por motivos que contradiziam minha história na música e minha cabeça de adolescente com 17 anos eu decidi sair dessa banda.
Na época eu usava uma Golden LP emprestada do Junior ou qualquer outra guitarra que fosse melhor que a minha simples Samick Stratocaster que apresentava vários problemas (mal contato na chave seletora), além de não segurar a afinação.
Também usava uma Tagima Stratocaster em 2002/2003 emprestada do Elton, guitarra que curiosamente eu adquiri desse grande amigo no ano de 2014, mais de dez anos depois de ter usado na festa de aniversário do próprio Junior. Pelo que eu me lembre, nessa época nós só sabíamos tocar "Fade to Black" do Metallica e "Wasting Love" do Iron Maiden kkkk.
Tagima Strato adquirida no meio desse ano, instrumento escalopado de fábrica, customizado com dois captadores Dimarzio HS-3 pelo próprio Elton, primeiro e único dono da guitarra.
Um tempo depois comprei outra guitarra, instrumento que utilizei por um tempo em minha segunda banda. Novas experiências, novas frustrações. Peguei minha guitarra, uma Jackson made in Japan cor vinho, modelo JSX customizada com captadores Dimarzio Evolution e guardei em seu case. Melhor dizendo, eu enterrei a guitarra. Assim encerrou um período de dedicação e amizade com o instrumento musical que preenchia tudo, ou quase tudo em minha vida: preenchia minha solidão, minha carência afetiva, era o que eu fazia em dias felizes quando tocava em comemoração por algo bom ou quando em dias tristes eu descansava minha mente sobre as seis cordas daquela Jackson, onde as horas pareciam minutos quando eu estava com ela, onde os dias se pareciam pequenos em sua compania.
Cinco anos se passaram sem eu tocar um dedo em minha guitarra. Estranho, muito estranho, para mim que desde os 12 anos de idade tinha encontrado um motivo para aliviar as tensões e angústias da adolescência, a guitarra me acompanhava em qualquer coisa que eu fazia, ou melhor dizendo, em qualquer coisa que eu sentia. A prática era constante, posso dizer que eu chegava da escola meio dia, almoçava tentando equilibrar o prato da comida em alguma coisa que não fizesse eu desgrudar de minha guitarra.... e assim era durante todas as tardes. Não sei dizer se naquele momento a decisão foi consciente, mas a minha frustração era tão grande que eu sabia o que eu queria, e naquele momento, eu não queria mais tocar a minha guitarra, simplesmente não tinha mais vontade. Às vezes eu sentia despertar um desejo, abria o case onde estava guardade a "espada", e ficava admirando sua beleza, as lembranças eram muitas, mas eu não sabia mais se era possível recomeçar. Na época, eu tinha um amplificador muito velho e que havia queimado seu fusivel em uma das minhas últimas participações na banda durante um ensaio, mandei ele para a casa de meu pai, que fica em outra cidade de onde moro, e lá permaneceu guardado em uma garagem. [Está lá até hoje].
Também tinha na época uma pedaleira da Digitech RP20, valvulada, que deixei encostada em meu guarda roupa, pegando pó. Os cabos que eu usava para as ligações, todos quebraram com o tempo, não havendo mais utilidade. A guitarra, por mais que estivesse guardada em seu case, também sofreu com a ação do tempo. As cordas enferrujaram, ou melhor dizendo, "envelheceram". Os dias passaram, fiz faculdade nesse tempo e aprendi muitas coisas, inclusive a superar problemas e aprender com os erros do passado. O tempo de reconstruir havia chegado, mesmo que eu não soubesse por onde começar. Como eu ainda era estudante de graduação e minha bolsa de pesquisa na faculdade era pouca, eu não tinha dinheiro para quase nada, e não dava para comprar um amplificador. Sim, eu precisava de um caso quisesse recomeçar a tocar. Foi então que com R$ 80,00 Reais comprei um fone de ouvidos na Stúdio Cds, loja tradicional aqui em Pelotas/RS. Em casa, logo conectei na pedaleira e tirei a "espada" que estava enterrada. Como eu ainda não estava pronto para voltar a tocar, em alguns dias eu atirei os fones em um canto e voltei a guardar a guitarra. Foi minha primeira tentativa, mas as dificuldades haviam me dominado, parecia que eu não tinha forças suficientes para voltar a tocar. Me lembro que estávamos no ano de 2009, um paciente meu na época que também gostava de tocar me perguntou qual era a guitarra que eu tinha, e para minha surpresa, eu não me lembrava mais nem do nome JACKSON. Fiquei com vergonha de mim mesmo, por não saber mais nem a marca da guitarra que eu tinha, por tanto tempo que ela permaneceu enterrada, eu havia me esquecido.
Consegui juntar dinheiro de presente de aniversário com um pouco do meu salário e comprei um amplificador pequeno, ideal para estudo, era um Fender Frontman 15R, ou como melhor definiu um guitarrista e amigo meu Márcio, o "abelheira", por seu característico ruído e chiado. Tamanha foi minha reação quando percebi que eu não conseguia mais fazer as mesmas coisas que eu sabia fazer na guitarra. Eu havia perdido a minha velocidade, qualquer solo que eu tentasse fazer, era em vão. Apenas alguns acordes e a certeza de que tudo estava "intacto" em minha memória, mas eu não sabia mais tocar. A dificuldade era em não sentir dor em minhas mãos, que estavam já cansadas por não conseguir mais praticar com minha espada. O que eu fiz? Não desisti. Com o passar do tempo eu já estava dando continuidade em minha carreira profissional, não tinha muito tempo para praticar, mas eu não ficava um dia mais sem pegar minha guitarra, nem que fosse por dez minutos.
Comecei a comprar alguns pedais de efeito da Boss, por serem baratos e por me motivar a montar um set, logo eu que sempre preferi as pedaleiras. É claro que com o passar do tempo a gente aprende que os pedais Boss não são considerados top de linha para quem quer melhorar seu timbre, ainda que algumas modulações ainda considero bem interessantes, como é o caso do meu Chorus japonês Black Label CE-2.
Depois disso, eu já estava preparado para a "guerra", nunca mais fiquei sem tocar minha guitarra. Atualmente, conto com 29 guitarras em minha coleção e alguns pedais em meu set. Minha preferência claramente é pela Fender, mas eu também tenho uma Ibanez Radius pré Satriani 1992, Custom Made, Made in Japan.
O que aprendi nesses anos todos é, independente dos problemas que aparecerem em minha vida, lá estará ela: minha guitarra. Os cinco anos em que larguei o hobby foram talvez os mais difíceis, olhando para trás, até eu me questiono como eu consegui ficar tanto tempo sem fazer o que eu gostava de fazer. Talvez eu estivesse em luto, não sei dizer com certeza, mas sei que aprendi: é impossível viver sem a música. Ela me da um grande suporte em combater as dificuldades, me alivia o estresse e ainda me ajuda a seguir em frente. É isso pessoal, espero ter passado alguma coisa para vocês com a minha história! Abraços.
Na época eu usava uma Golden LP emprestada do Junior ou qualquer outra guitarra que fosse melhor que a minha simples Samick Stratocaster que apresentava vários problemas (mal contato na chave seletora), além de não segurar a afinação.
Também usava uma Tagima Stratocaster em 2002/2003 emprestada do Elton, guitarra que curiosamente eu adquiri desse grande amigo no ano de 2014, mais de dez anos depois de ter usado na festa de aniversário do próprio Junior. Pelo que eu me lembre, nessa época nós só sabíamos tocar "Fade to Black" do Metallica e "Wasting Love" do Iron Maiden kkkk.
Tagima Strato adquirida no meio desse ano, instrumento escalopado de fábrica, customizado com dois captadores Dimarzio HS-3 pelo próprio Elton, primeiro e único dono da guitarra.
Um tempo depois comprei outra guitarra, instrumento que utilizei por um tempo em minha segunda banda. Novas experiências, novas frustrações. Peguei minha guitarra, uma Jackson made in Japan cor vinho, modelo JSX customizada com captadores Dimarzio Evolution e guardei em seu case. Melhor dizendo, eu enterrei a guitarra. Assim encerrou um período de dedicação e amizade com o instrumento musical que preenchia tudo, ou quase tudo em minha vida: preenchia minha solidão, minha carência afetiva, era o que eu fazia em dias felizes quando tocava em comemoração por algo bom ou quando em dias tristes eu descansava minha mente sobre as seis cordas daquela Jackson, onde as horas pareciam minutos quando eu estava com ela, onde os dias se pareciam pequenos em sua compania.
Cinco anos se passaram sem eu tocar um dedo em minha guitarra. Estranho, muito estranho, para mim que desde os 12 anos de idade tinha encontrado um motivo para aliviar as tensões e angústias da adolescência, a guitarra me acompanhava em qualquer coisa que eu fazia, ou melhor dizendo, em qualquer coisa que eu sentia. A prática era constante, posso dizer que eu chegava da escola meio dia, almoçava tentando equilibrar o prato da comida em alguma coisa que não fizesse eu desgrudar de minha guitarra.... e assim era durante todas as tardes. Não sei dizer se naquele momento a decisão foi consciente, mas a minha frustração era tão grande que eu sabia o que eu queria, e naquele momento, eu não queria mais tocar a minha guitarra, simplesmente não tinha mais vontade. Às vezes eu sentia despertar um desejo, abria o case onde estava guardade a "espada", e ficava admirando sua beleza, as lembranças eram muitas, mas eu não sabia mais se era possível recomeçar. Na época, eu tinha um amplificador muito velho e que havia queimado seu fusivel em uma das minhas últimas participações na banda durante um ensaio, mandei ele para a casa de meu pai, que fica em outra cidade de onde moro, e lá permaneceu guardado em uma garagem. [Está lá até hoje].
Também tinha na época uma pedaleira da Digitech RP20, valvulada, que deixei encostada em meu guarda roupa, pegando pó. Os cabos que eu usava para as ligações, todos quebraram com o tempo, não havendo mais utilidade. A guitarra, por mais que estivesse guardada em seu case, também sofreu com a ação do tempo. As cordas enferrujaram, ou melhor dizendo, "envelheceram". Os dias passaram, fiz faculdade nesse tempo e aprendi muitas coisas, inclusive a superar problemas e aprender com os erros do passado. O tempo de reconstruir havia chegado, mesmo que eu não soubesse por onde começar. Como eu ainda era estudante de graduação e minha bolsa de pesquisa na faculdade era pouca, eu não tinha dinheiro para quase nada, e não dava para comprar um amplificador. Sim, eu precisava de um caso quisesse recomeçar a tocar. Foi então que com R$ 80,00 Reais comprei um fone de ouvidos na Stúdio Cds, loja tradicional aqui em Pelotas/RS. Em casa, logo conectei na pedaleira e tirei a "espada" que estava enterrada. Como eu ainda não estava pronto para voltar a tocar, em alguns dias eu atirei os fones em um canto e voltei a guardar a guitarra. Foi minha primeira tentativa, mas as dificuldades haviam me dominado, parecia que eu não tinha forças suficientes para voltar a tocar. Me lembro que estávamos no ano de 2009, um paciente meu na época que também gostava de tocar me perguntou qual era a guitarra que eu tinha, e para minha surpresa, eu não me lembrava mais nem do nome JACKSON. Fiquei com vergonha de mim mesmo, por não saber mais nem a marca da guitarra que eu tinha, por tanto tempo que ela permaneceu enterrada, eu havia me esquecido.
Consegui juntar dinheiro de presente de aniversário com um pouco do meu salário e comprei um amplificador pequeno, ideal para estudo, era um Fender Frontman 15R, ou como melhor definiu um guitarrista e amigo meu Márcio, o "abelheira", por seu característico ruído e chiado. Tamanha foi minha reação quando percebi que eu não conseguia mais fazer as mesmas coisas que eu sabia fazer na guitarra. Eu havia perdido a minha velocidade, qualquer solo que eu tentasse fazer, era em vão. Apenas alguns acordes e a certeza de que tudo estava "intacto" em minha memória, mas eu não sabia mais tocar. A dificuldade era em não sentir dor em minhas mãos, que estavam já cansadas por não conseguir mais praticar com minha espada. O que eu fiz? Não desisti. Com o passar do tempo eu já estava dando continuidade em minha carreira profissional, não tinha muito tempo para praticar, mas eu não ficava um dia mais sem pegar minha guitarra, nem que fosse por dez minutos.
Comecei a comprar alguns pedais de efeito da Boss, por serem baratos e por me motivar a montar um set, logo eu que sempre preferi as pedaleiras. É claro que com o passar do tempo a gente aprende que os pedais Boss não são considerados top de linha para quem quer melhorar seu timbre, ainda que algumas modulações ainda considero bem interessantes, como é o caso do meu Chorus japonês Black Label CE-2.
Depois disso, eu já estava preparado para a "guerra", nunca mais fiquei sem tocar minha guitarra. Atualmente, conto com 29 guitarras em minha coleção e alguns pedais em meu set. Minha preferência claramente é pela Fender, mas eu também tenho uma Ibanez Radius pré Satriani 1992, Custom Made, Made in Japan.
O que aprendi nesses anos todos é, independente dos problemas que aparecerem em minha vida, lá estará ela: minha guitarra. Os cinco anos em que larguei o hobby foram talvez os mais difíceis, olhando para trás, até eu me questiono como eu consegui ficar tanto tempo sem fazer o que eu gostava de fazer. Talvez eu estivesse em luto, não sei dizer com certeza, mas sei que aprendi: é impossível viver sem a música. Ela me da um grande suporte em combater as dificuldades, me alivia o estresse e ainda me ajuda a seguir em frente. É isso pessoal, espero ter passado alguma coisa para vocês com a minha história! Abraços.
William de Oliveira
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